O Bolinho de Bacalhau

A Sexta-feira Santa sempre foi mais aguardada do que a Páscoa. Por mais que no domingo ganhássemos ovos de chocolate, era na sexta-feira que o banquete acontecia. A família de origem portuguesa não deixava de respeitar a data com receitas de frutos do mar. Por mais que ainda sentissem os reflexos de uma imigração feita às pressas pela geração anterior, era obrigatório ter um almoço farto que reunia bisavós, avós, filhos e netos. Minha bisavó Rosa era a encarregada do bolinho de bacalhau que tinha o gosto de Portugal. Minha avó Fátima se ocupava de uma receita mais brasileira, o Bacalhau com Coco. As panelas fumegantes exalavam um perfume que fazia com que nós, os netos, parássemos de brincar para ficar em volta do fogão, salivando como se não víssemos comida há dias. O Bacalhau com Coco era feito com várias mãos. Meu avô comprava o coco seco e raspava a parte branca para que fosse adicionado à mistura ainda fresco. Inclusive, inventou um ralador com um pedaço de madeira e ferro forquil...