Igreja do Rosário dos Homens Pretos








Fiz meu bacharel em Arquitetura na Universidade de Guarulhos. Foi minha segunda faculdade e como sou apaixonada por artes, uma boa parte da graduação com aulas de desenho, história e teoria em urbanismo foram bem divertidas. Deliciosas, na verdade. 

Para quem não conhece, o campus principal da Universidade de Guarulhos foi projetado por Eduardo Kneese de Mello e tem suas famosas brises criando uma 'couraça' texturizada em torno do prédio. Ele está localizado no centro de Guarulhos, nas costas da Igreja Matriz. 

Como estudante de arquitetura e sem condições financeiras, confesso que subi bastante a rua interna da faculdade para comprar material para maquetes no calçadão da Dom Pedro II. Como entusiasta das artes e da história local, um dos meus pontos de visita era justamente a Igreja Matriz e suas pinturas que datam de 1700. 

O calçadão em si, nunca me chamou a atenção. Do contrário. Sempre fui avisada para tomar cuidado com o celular e desviar de ambulantes. Porém, um dia, quando tive uma reunião extraordinária com meu grupo de estudo, passei pelo calçadão às 7h da manhã e fui surpreendida por aquela paisagem vazia.

Com o piso livre das mercadorias, reparei que uma parte do piso de caquinhos avermelhados, tinha uma forma quadrada, pintada de preto. Nunca tinha visto aquilo. Até me perguntei se era alguma intervenção artística.

Perguntei para algumas pessoas na rua, mas ninguém sabia que mancha era aquela. Só diziam que sempre esteve ali. Como sou curiosa, corri para o Google onde descobri a história da Igreja do Rosário dos Homens Pretos que ficava a 270 m de distância da principal (dos brancos!).

Fundada em 1750, essa igreja era frequentada pelos escravos, já que não frequentavam as missas da Igreja Matriz. Anexo também havia um cemitério e ambos foram desativados e demolidos em 1930 com a desculpa de ampliar as vias para a circulação. A igreja, pelo que foi possível apurar, foi a única vítima dessa obra e todos os outros prédios permanecem intactos até hoje. 

Em 2008, o projeto de Revitalização do Centro Histórico de Guarulhos encontrou vestígios das fundações e segundo a arquiteta da prefeitura, a expectativa era que fossem encontrados mais elementos arqueológicos, como esqueletos. Ela cogitou fazer um piso transparente, expondo as fundações e os achados históricos para o público, mas o que temos hoje (15 anos depois) é apenas uma grande mancha escura no local. 

Fontes: Acervo Histórico Araci Borges, Associação Comercial e Empresarial de Guarulhos, Prefeitura de Guarulhos (Portal do Turismo). 







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