O Zoológico da Vila Guilherme - SP

Os moradores antigos do bairro da Vila Guilherme tem muitas histórias para contar sobre o Zoológico do Senhor Agenor. Na Rua do Imperador, 1553, hoje é possível ver apenas um estacionamento, instalado onde há meio século haviam animais que atraiam pessoas de todas as partes de São Paulo. 

O Zoológico era o local favorito para as famílias passearem aos fins de semana. Também era um local conhecido para casais de namorados gastarem algumas horas entretidos na companhia um dos outros. 

Os vizinhos diziam que ouviam os animais durante a noite. Gorilas, elefantes, os pássaros, leões, camelos e ursos. Sentiam-se em uma selva, mas, ao mesmo tempo que tinham um pouco de receio, divertiam-se com os sons inusitados.

Os chimpanzés eram um espetáculo a parte. Dizem que o casal se desentendia constantemente e, ao perceber que eram observados pelo público curioso, enchiam as mãos de fezes e jogam nos visitantes. Minha bisavó levava os netos para ver os animais quando lhe sobrava tempo e uns trocados, mas não sem antes avisar para correrem caso os chimpanzés se abaixassem de maneira suspeita.

Segundo os jornais da época, o Zoológico abriu as portas em 1951 e até ganhou uma linha de ônibus própria que o ligava ao Largo da Concórdia. O Senhor Agenor era proprietário dos animais que trazia de suas viagens e encomendava a amigos exploradores. O espaço era realmente pitoresco, com animais da Austrália, China, África, Rússia e até mesmo aqui de nossa Amazônia. A 'chita' aparentemente era uma atração a parte, pois exigia dois beijos por dia de seu cuidador ou não tocava a comida. 

O cineasta Wilson Gomes de Araújo rodou o filme A Grande Filme (1972) usando o Zoológico como locação. 

O gorila foi o primeiro animal a parar nos noticiários por um motivo desagradável. Em 3 de abril de 1970, a Folha de São Paulo noticiou que um operário foi agarrado pelo animal ao se aproximar da jaula e precisou ficar internado. Havia avisos pedindo distanciamento das jaulas e para que os visitantes tratassem os animais com carinho, pois tinham medo dos humanos. Em caso de se sentirem ameaçados era natural que atacassem.

Porém, foi a elefanta Bruna que infelizmente encerrou de uma vez por todas as atividades do Zoológico. Bruna foi resgatada de maus tratos no Egito e trazida para o Senhor Agenor. Existem diversos relatos sobre o acidente envolvendo a elefanta e seu tratador. Minha tia acredita que Bruna se irritou e arrancou a cabeça de Agenor Gomes com a tromba. Meu tio ouviu dizer que o tratador se exibia com o animal quando foi pisoteado, mas foi um relato muito coeso que me aproximou do que realmente pode ter acontecido aquela noite. 

Segundo um dos vizinhos relata, estava chovendo uma garoa fina típica de São Paulo quando a esposa do Senhor Agenor começou a gritar. Por morar ao lado do portão de cima do Zoológico, na rua Dona Viridiana, ele foi o primeiro a chegar ao local. O Senhor Agenor ficou preocupado com a elefanta que ficava agitada e encostava na cerca elétrica e foi verificar o animal. O vizinho diz que viu o tratador com a barriga dilacerada, indicando que foi pisado. 

Bruna foi transferida para o Zoológico da Água Funda onde morreu muitos anos depois. Os animais aos poucos foram doados ou enviados para outros locais de exposição. A Chácara, onde ficavam as jaulas, hoje é o Zoo Park. 

Há muitos anos fechado, não podemos dizer que o Senhor Agenor foi esquecido. Gerações que hoje chegam as 60 ou 70 anos se lembram com um sorriso dos momentos que passaram no Zoológico. Moradores do Tucuruvi, Parada Inglesa, Vila Maria e Vila Guilherme mantém a viva a história desse senhor que dedicou boa parte de sua vida a criar e educar as gerações mais novas sobre o respeito aos animais. 

Fontes:

https://zoobservatorio.com.br/blog/2021/01/06/cresce-popularidade-de-zoologico-do-agenor-zoo-amador-na-vila-guilherme/ https://www1.folha.uol.com.br/banco-de-dados/2020/04/1970-gorilas-ferem-dois-no-zoologico-da-vila-guilherme-em-sao-paulo.shtml https://vilaguilherme-sp-com.webnode.pt/news/bruna-zoologico-agenor/