Será que Todos os Pais são Narcisistas?





Há meses acompanho alguns grupos de jovens no Facebook com a intenção de observa-los. Sim, concordo que é um coisa de crise de meia idade misturado com curiosidade de pesquisa. Minha intenção era entender maneiras novas de se expressar, dramas atuais e coisas que seriam relevantes para quem escreve para esse público (amo escrever chicklit, então...).

Porém, minha observação foi interrompida por um alerta vermelho psicológico. Percebi uma tendência crescente entre os adolescentes de rotular seus pais como narcisistas. O termo "narcisista" é frequentemente utilizado para descrever pessoas que têm um amor excessivo por si mesmas e um desinteresse pelos outros. No entanto, é importante questionar se essa rotulagem é realmente justificada ou se reflete apenas a falta de compreensão sobre o papel dos pais na vida dos adolescentes. Será que eles podem rotular seus pais como narcisistas simplesmente porque suas expectativas não estão sendo atendidas?

Durante a adolescência, é comum que os jovens criem uma visão idealizada de como seus pais deveriam ser. Eles podem esperar que seus pais estejam sempre disponíveis, compreensivos, perfeitamente adaptados às suas necessidades e capazes de realizar todos os seus desejos. No entanto, essa visão idealizada muitas vezes não corresponde à realidade. Os pais são seres humanos com falhas e limitações, e é importante lembrar que eles também estão em um processo de aprendizado e crescimento.

Um dos principais motivos pelos quais os adolescentes podem rotular seus pais como narcisistas é a busca por reciprocidade emocional. Nessa fase da vida, os jovens estão se descobrindo, construindo sua identidade e enfrentando uma série de desafios emocionais. Eles desejam atenção, compreensão e apoio de seus pais, especialmente quando estão lidando com problemas pessoais ou enfrentando dificuldades. Quando percebem que seus pais não estão respondendo às suas necessidades emocionais da maneira que esperam, podem interpretar erroneamente essa falta de retribuição como narcisismo.

A comunicação e a empatia desempenham um papel fundamental na construção de relacionamentos saudáveis entre pais e filhos. Muitas vezes, os adolescentes podem sentir que seus pais não estão genuinamente interessados em seus problemas ou que não conseguem se conectar emocionalmente com eles. Essa falta de empatia pode ser interpretada como um sinal de narcisismo, quando na verdade pode ser resultado de diversas circunstâncias, como estresse, falta de conhecimento sobre como lidar com questões emocionais ou até mesmo falta de habilidades de comunicação. O choque de gerações podem gerar grandes argumentos vitimistas. 

Em vez de rotular seus pais como narcisistas, é essencial que os adolescentes busquem um diálogo aberto e honesto com eles. Expressar suas expectativas e necessidades emocionais de forma clara pode ajudar a estabelecer uma base de comunicação mais sólida. Os pais também devem estar dispostos a ouvir e entender os sentimentos de seus filhos, mostrando-lhes que eles são valorizados e amados. Aqui retorno ao choque de gerações. Meu pai, por exemplo, é incapaz de dizer um 'eu te amo' e tenta compensar comprando coisas e dando caronas. Isso quer dizer que ele não me ama? Não, mas cabe a mim compreender que ele tem suas limitações emocionais. Se ele compra uma roupa para ele, não quer dizer que não me ame porque não comprou uma pra mim também. Ele trabalha pra caramba pra poder comprar suas coisas. 

Rotular os pais como narcisistas pode ser uma resposta precipitada dos adolescentes quando suas expectativas idealizadas não são atendidas. É fundamental reconhecer que os pais têm suas próprias limitações e estão enfrentando seus próprios desafios em suas vidas. E vou além, ao rotular os pais como narcisistas e se colocar em posição de vítimas, de mendigos de atenção virtual, de colocar a boca no trombone sobre como são modelos ideais de filhos que merecem serem adorados em um altar familiar, eles estão se enfraquecendo psicologicamente. 

Ao se colocarem como mendigos de atenção virtual, os adolescentes estão buscando validação externa para suprir suas necessidades emocionais. Eles podem usar as redes sociais ou outras plataformas para expressar suas frustrações e buscar apoio, esperando que outros confirmem suas visões negativas dos pais. No entanto, essa abordagem pode criar um ciclo de negatividade e reforçar a ideia de que são vítimas impotentes.

Em vez de se concentrarem nas falhas e limitações dos pais, os adolescentes podem direcionar sua energia para o autodesenvolvimento e para a construção de um relacionamento saudável com eles. Em vez de buscar a atenção e a aprovação virtual, é importante buscar a comunicação aberta e sincera com os pais, expressando seus sentimentos e necessidades de forma assertiva.

Ao adotar uma postura mais resiliente e empoderada, os adolescentes podem assumir a responsabilidade por sua própria felicidade e bem-estar emocional. Isso envolve reconhecer que eles têm o poder de moldar suas próprias vidas e encontrar maneiras construtivas de lidar com as dificuldades familiares. Ao invés de se colocarem como vítimas, podem buscar soluções e trabalhar para construir um relacionamento mais saudável e satisfatório com seus pais.

Mas, ei, estou postando isso aqui no meu blog porque se colocar em um post no Facebook e um adolescente que acredita ser vitima de uma mãe narcisista, serei esculachada por não ter 'empatia' sobre o pobre alecrim dourado que já sofreu muito nessa vida. É uma mordaça virtual? Sim, não é permitido ir contra os fracos e oprimidos, mesmo que o sejam apenas dentro de seu mundo idealizado. 





Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Menino e a Garça.

Guia completo: como escolher o narrador perfeito para o seu audiolivro

Escritoras do Passado