Dia dos Amores Verdadeiros






Doze de Junho sempre foi aquele dia importante para o comércio brasileiro. Em tempos de vida liquida e de aparência nas redes sociais, o amor parece estar em todos os lugares, mesmo que seja apenas um sorriso amarelo em uma praia poluída (que tinha magicamente linda com filtro adequado). 

Existem aquelas pessoas que se sentem na obrigação de mostrar que tem alguém nessa data. Precisa fazer uma declaração pública, mostrar um presente e fazer 'mistério' sobre o remetente ou ainda, assumir de vez a solteirice e escrever um textão sobre a importância do amor-próprio. 

Não importa o presente, a manifestação ou os dias de autocuidado que já tive na data. Já passei sozinha desejando ter alguém, já passei sozinha amando minha liberdade, já passei acompanhada por interesses amorosos. Todos eles tiveram um gostinho de vazio no final. Aquela sensação de comprar um prato que todos acham maravilhoso e você constatar, para sua tristeza, que era 'só' aquilo. 

Tive apenas um dia dos namorados incrível. Foi com minhas amigas próximo ao final do curso bacharel em cinema. Aquele ano, em meados dos anos 2000, calhou de nós quatro estarmos solteiras nessa data. Era uma amizade que me fazia vibrar. Chegamos os cúmulo de constatar a lenda urbana que mulheres sincronizam seus ciclos. Estávamos muito unidas. 

Jubi, Fabi, Mamão e eu inventamos de nos presentear. Sentamos em um café divino que tinha em frente a faculdade e prosseguimos nosso papo regado a cappuccino como fazíamos quase semanalmente. Eu sentia que toda a liberdade do mundo com elas. Históricos tão diferentes, mas estávamos unidas pelo amor ao cinema, a esperança de conseguir fazer parte de filmes que marcariam nossas vidas e pela sororidade de sermos mulheres se aventurando em uma indústria ainda muito machista. 

Compramos flores de chocolate. Nos abraçamos como nunca e, pela primeira vez, eu realmente me senti completamente feliz. Sem o gostinho amargo do 'é só isso?' que me segue até hoje como um encosto. Eu nunca tinha me sentido tão pertencente a um lugar. 

No futuro, ao comemorar o dia dos namorados com outras pessoas, por mais que fossem em restaurantes incríveis, eu nunca consegui me sentir tão bem quanto naquele dia. Talvez eu ainda use essa alegria como comparativo para meu ideal de felicidade. 

Nos anos seguintes, uma namorava, a outra estava estagiando, e assim, aos poucos a vida se encarregou de nos dispersar em outras buscas. Faço questão de vê-las sempre que possível, o que se tornou raro, com filhos e distancias geograficamente impeditivas. 

"Não é o presente, é a pessoa". No caso, foram AS pessoas. 

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