Malhando com Ódio - Semana 3 e 4







Algo incrível aconteceu. E o mais incrível ainda é que tem a ver com a rotinha de exercícios.

Estou escrevendo algumas aulas voltada para escrita criativa. Desde o começo do mês resolvi investir nas minhas habilidades em comunicação e roteiros e estou montando uma série de aulas para a mentoria.

As primeiras aulas foram voltadas para o autoconhecimento e como isso ajuda no storytelling, em como nos conectamos pela emoção com os leitores. Para dar exemplos disso, contei sobre minha infância.

Eu fui a primeira criança da minha geração na minha família. Até meus três anos eu era muito paparicada, era a lindinha, a gracinha. Me davam muitos presentes e até ganhei um cachorrinho. Era tudo lindo até quando fiz quatro anos e minha irmã nasceu. Ela nasceu o meu oposto: loirinha, com o cabelo liso, bochechas vermelhinhas. Eu, tinha meu cabelo cheio, alto, parecia a Cher ou Gal Costa, branca feito um fantasma. Se fosse apenas a aparência, acho que teria sido menos traumático, mas ela nasceu com um problema cardíaco e a recomendação primordial do médico foi: ela não pode se estressar.

Imagina que toda a atenção que tive foi sugada de mim e revertida para a bebê. Eu, com meus quatro anos recém-completados, não consegui entender porque que de repente eu era enxotada dos ambientes, por que gritavam comigo quando eu me aproximava ou o motivo de estar passando cada vez mais tempo na casa da minha avó.

Eu tinha um espaço, eu fazia parte de uma família, mas do dia para a noite, não fazia mais. Quando minha irmã cresceu um pouco ela queria meus brinquedos e adivinha? Se eu estava brincando de alguma coisa, aquilo era tirado de mim e dado pra ela. Isso me fez crescer me isolando cada vez mais. Eu brincava com a porta do quarto fechada para que ninguém visse e fui criando minha própria fortaleza.

Na fase da adolescência eu me distanciei cada vez mais dos meus pais. Minha irmã já estava curada, mas eu me convenci que não precisava mais do afeto de ninguém. Eu tinha respostas prontas quando me perguntavam  porque não ficava com minha irmã no intervalo da escola: odeio aquela pirralha.

Eu era a diferente. Negava qualquer conexão com a minha família, com as minhas raízes. Aprendi a respirar aliviada quando estava longe deles, afinal, não seria tirado anda de mim, não é? Tudo isso me levou a encontrar conforto no isolamento, mas esse conforto no fundo era apenas uma maneira de me proteger, porque no fundo tinha uma criança machucada, que queria pertencer a algum lugar, que queria ser amada como antes.

Essa é uma história que eu não gosto de olhar e nego sempre que possível, mas toda vez que vou fazer alguma terapia é nela que eu esbarro.

E foi depois que escrevi essa história (de uma maneira mais didática, claro), resolvi espairecer das memórias incômodas e fui na academia. Estava no meio de um leg press quando deixei a garrafa de água cair no meu colo e a ficha cair no meu cérebro: eu estou até hoje buscando pertencer a algum lugar.

E não para por aí. Eu me auto saboto justamente nesse ponto. Quando estou me sentindo pertencente a um grupo social, logo quero abandoná-lo. Encontro mil desculpas para não ficar alí (empregos, família, cursos). Preciso sair antes que me abandonem. Preciso sair antes que comece a me acostumar com aquela turma e o adeus se torne muito mais doloroso.

Claro que elevei essa reflexão para a terapia. Vou ter que rever e refletir por muito tempo. E o mais surpreendente é que esse insight veio justamente em um momento em que estava me concentrando na força física, relaxando o mental.

Será que estou vendo benefícios? 

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