Malhando com Ódio - Semana 5 e 6

 





Ainda com a cabeça quente por conta do insight, não perdi um dia de malhação. Achei que viriam outros, sei lá. A ansiedade por autoconhecimento fica maior quando parece que algo revelador acontece.

O problema é que ainda não soube transformar essa informação em questões práticas. Para me testar, olhei no espelho enquanto fazia elevação lateral.

Tenho o tríceps digno da minha idade. Tudo balança quando movimento os braços. Qualquer coisa que possa fazer para esconder esse detalhe será feito, até mesmo usar uma blusa de manga comprida na academia.

Fora o tríceps e a celulite, tive a impressão que finalmente a gordura abdominal deu uma secada. Até me atrevi a me achar interessante.

Será que estou disposta a sair da minha zona de conforto e me testar?

Instalei dois aplicativos de namoro. De início, não achei ninguém interessante, mas deixei os apps lá, quietinhos, por alguns dias.

Em uma sexta meio xoxa, resolvi olhar o enorme catálogo de homens que estava ofertado. Minhas pernas estavam doendo por conta dos exercícios que pareciam ir direto para os músculos do bumbum. O treino novo me deixou querer ficar sem sentar por alguns dias. Pensando mais nas pernas do que nos homens com todos padronizadas (sentados nos bancos da academia e tirando selfie no espelho) acabei passando para o lado a foto de um rapaz na casa dos quarenta anos.

Pelas fotos, não era feio. Era baixinho, mas até aí, eu mal conseguir crescer além de um metro e meio. Não seria um problema. Não tinha nenhuma foto sorrindo, mas aparentava ter um tríceps melhor que o meu.

Na semana cinco, indo na academia todos os dias, tive coragem de marcar um almoço em um local relativamente próximo ao metrô.

Já tínhamos conversado o suficiente para saber que ele prezava por uma boa ortografia (obrigada, Senhor). Diferente do ex, ele aparentava ter um bom controle financeiro. Era formado em economia e trabalhou com finanças. Hoje investia em negócios próprios. Entendia de jornalismo e me deixou bastante contente ao mencionar que leu alguns livros que eu tenho na cabeceira.

Será que achei um cara bacana rápido assim? Santa academia! Obrigada por ter melhorado minha autoestima em pouco tempo!

O restaurante japonês que ele escolheu não era dos melhores.  Investiram em extravagancias com gelo seco e cometeram o pecado gastronômico de colocar Doritos no Hot Roll. Eu não sei se ele ficou constrangido, mas eu certamente fiquei.

Mas meu constrangimento veio bem antes dessa treta culinária. Minha expectativa cresceu muito quando ele me informou que tinha chegado no horário (aliás, cinco minutos antes do horário que combinamos). Em São Paulo, um cara que não atrasa é no mínimo sinônimo de bom partido (e como desconfiei, ele é virginiano).

Porém, minha alegria terminou alí. Ao encontrá-lo na porta, minha cara veio ao chão. Ele deve ter photoshopado todas as fotos que colocou no aplicativo. Ele tinha bochechas tão grandes que me lembrou um esquilo voador. Sabe aquela espécie que fica quase quadrada quando abre os braços e as perninhas? Pois o rosto dele tinha aquele formato.

Naquele momento me toquei do tamanho da encrenca que tinha me metido.

Sentamos para conversar e fui super bacana, conversando sobre a formação, sobre minha filha (não escondi no aplicativo que era mãe, o que reduziu consideravelmente as minhas chances de match). Ele me deu poucas informações sobre sua vida pessoal e eu me senti mais em um monólogo.

Não rolou nada além do desespero para sair dali assim que a conta chegou.

Como fui imaginar que o insight da semana anterior pudesse abrir a porta para que todas as soluções da minha vida pudessem entrar?

O que entrou foi um gárgula que tinha um péssimo gosto em perfume. Não foi nem chatice minha, foi minha rinite que começou a espernear logo no início (tá, foi chatice minha, mas foi a rinite também).

Segunda-feira lá estava eu chateadíssima com o péssimo date e sentada no Leg Press do insight de novo.  Aumentei os pesos até quase não aguentar a fazer a série inteira. Iria apagar aquelas memórias nem que fosse pela força.

Infelizmente, quando tento deixar os pensamentos de lado, eles voltam alvoroçados.  Estava concentrada em contar a quantidade de vezes que tinha empurrado a máquina quando comecei a me perguntar o que afinal quero da vida?

Será que sou tão exigente assim? Eu não tenho direito de ser exigente. Eu mal consigo tocar no chão com a ponta dos dedos em um alongamento. Minhas pernas estão cheias de celulite. Estou sem grana para o botox e só vejo rugas aparecendo cada vez mais.

Estou mais próxima da menopausa do que da puberdade.

Será que tenho a escolha de rejeitar o cara-de-esquilo quando eu mesma não estou na melhor das formas?

Odeio o Leg Press.

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