Uma Reflexão Necessária







Esses dias me deparei com uma coluna do Rodrigo Casarin intitulado: Escritores estão perdendo a confiança nos leitores?

Como escritora, produtora de conteúdo e roteirista, eu também já me perguntei isso algumas vezes. 

Percebo um movimento generalista nas histórias e para ilustrar meu pensamento, preciso recorrer a Bauman e sua teoria de Modernidade Liquida. 
O indivíduo que influenciara a sociedade com sua própria personalidade.

Primeiramente, sem os referenciais da era sólida moderna, o indivíduo será caracterizado por seu estilo de vida, pelos seus hábitos de consumo e a maneira como ele consome.

Inseridos nesse contexto, os escritores, colocam seus livros como algo a ser consumido. Sua renda depende dessa relação de consumo. Seu pensamento, suas palavras, são uma mercadoria. 

Segundo, existe uma movimentação: as pessoas não ficam mais no mesmo lugar. Logo, uma biblioteca, livros pesados, dão lugares a leitura virtual e os e-readers. 

Em terceiro lugar, a competição econômica faz com que todos vivam uma eterna insegurança financeira. Não existem (e nem interessa) mais um emprego estável, apesar de ansiarmos por uma previsibilidade de entradas. 

Bauman sustenta que, na sociedade fluída, as pessoas têm uma tendência a pensar que a atitude mais racional é não se vincular a nada. Portanto, quando uma nova oportunidade ou ideia surge, esse indivíduo se envolve sem maiores conflitos. Ou seja, estamos mais voláteis. 

Se mais nada é sólido, tudo é questionado. O que é ótimo, precisamos questionar as tradições, pois foram elas responsáveis pelo machismo, racismo, homofobia e tantos outros preconceitos e crueldades que causaram tanto sofrimento. 

Acontece que, a partir do momento em que escolhemos questionar tudo, tudo se torna um perigo. Opiniões criam conflitos por conta de nuances e escolha de palavras. Estamos sempre procurando pelo em ovos para cancelar ou fritar alguém. 

Quando um escritor depende disso para viver, ele se acovarda. Seus textos se tornam mais explicativos, com notas de rodapé, com contextualizações. Ou ele passa a escrever conteúdos rasos, generalistas e que agradam a todos. 

A segurança financeira é diretamente proporcional a coragem do escritor. 

A própria Pixar se acovardou diante de um público cada vez mais atento e exigente. Elementos é um filme visualmente deslumbrante, mas que repete que todos devem viver seus sonhos, não devem se limitar as circunstâncias sociais. É um filme seguro. É um filme que tem medo de questionar moralidade. A Disney não quer ser cancelada, principalmente depois de passar por um período turbulento com um CEO que escorregou no sabonete quando escolheu ficar em silêncio diante da polêmica lei Don't Say Gay. 

Se a Disney se sentiu entre a cruz e a espada diante de pais tradicionalistas e os direitos LGBTQIA+ o que dirá um escritor que está lutando para ter reconhecimento pelo seu trabalho?

Além disso, ainda tem a questão que os leitores estão desenvolvendo uma certa preguiça cognitiva. Anseiam por chegar a conclusão das frases e não se atentam aos pormenores que levam o desenvolvimento do pensamento. Se passam para frente vídeos de dez segundos no TikTok, o que podemos dizer de um livro de 100 páginas?

A maneira de ler, de absorver conteúdo e de questionar o que está sendo passado se tornou um grande ruído no império da falta de atenção. 

A questão é que estamos todos perdidos. Quem quer abraçar muitos nichos, se encaixar em todas as bolhas, cai na espuma da irrelevância. Assim como Elementos, o lugar seguro se tornou um lugar mais pobre. 







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