Monster (2023)

 O filme japonês "Monster," dirigido por Hirokazu Koreeda e lançado em 2023, revela-se uma obra cinematográfica notável que mergulha nas complexidades da sociedade japonesa contemporânea. A narrativa, envolvente desde o início até o fim, explora não apenas as experiências dos personagens, mas também lança uma luz crítica sobre as normas sociais rígidas e as complexidades das instituições japonesas.

A trama se desenrola no cenário japonês, um contexto marcado por normas sociais distintas e, muitas vezes, intransigentes. A protagonista, erroneamente rotulada como "mãe solteira," na verdade é uma viúva que enfrenta desafios monumentais enquanto tenta compreender e lidar com o comportamento perturbador de seu filho. Este filme, habilmente dirigido por Koreeda, proporciona uma imersão profunda nas nuances da sociedade japonesa do século XXI.

A atmosfera inicialmente sufocante da narrativa evolui de maneira magistral à medida que a trama se desenvolve. A representação visual da mãe, lutando para ser ouvida diante das instituições educacionais, destaca-se como uma metáfora potente da luta individual contra um sistema que, muitas vezes, permanece impassível diante de questões prementes.

A abordagem de Koreeda destaca não apenas as dificuldades enfrentadas pela protagonista, mas também revela as deficiências inerentes ao sistema educacional japonês. A complexidade das interações entre a mãe e os professores, bem como a diretora, é habilmente capturada, retratando a agonia de uma mãe em busca de respostas em um labirinto burocrático.

A estrutura do roteiro se destaca pela utilização de diferentes pontos de vista, um artifício narrativo que enriquece a trama. Ao alternar entre a perspectiva da mãe e a do professor, o filme constrói uma narrativa envolvente que desafia as expectativas do público. A revelação gradual de detalhes cruciais da trama por meio dessas diferentes perspectivas contribui para a intensidade emocional da obra.

A segunda parte do filme, centrada no ponto de vista do professor, é particularmente impactante. O espectador é levado a questionar suas próprias preconcepções, conforme o professor é revelado como uma figura fora de lugar e tempo. Essa reviravolta na trama cria uma atmosfera de simpatia pelo personagem, enquanto ele enfrenta as adversidades geradas por mal-entendidos e pela falta de comunicação.

A terceira parte, centrada no ponto de vista das crianças, proporciona um alívio bem-vindo à tensão anterior. A obra, então, assume uma tonalidade mais leve, explorando temas de amizade e renascimento. A crença das crianças na reencarnação e a exploração de suas relações oferecem uma visão mais otimista, contrastando com as camadas mais sombrias apresentadas anteriormente.

A cinematografia é um destaque à parte, capturando não apenas a beleza das paisagens, mas também refletindo a complexidade emocional dos personagens. A cena simbólica do túnel subterrâneo, representando a jornada de renascimento, é particularmente marcante, oferecendo uma metáfora visual convincente.

Em resumo, "Monster" emerge como uma obra cinematográfica que vai além de uma simples análise das rigidezes sociais japonesas. Com uma narrativa envolvente, personagens multifacetados e uma abordagem visualmente impactante, o filme oferece uma reflexão profunda sobre temas universais de compaixão, comunicação e renovação. Este trabalho de Koreeda merece destaque não apenas por sua narrativa cativante, mas também por sua habilidade em explorar as complexidades da condição humana.